quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quem disse que gosto dos pombos?

Esperei tanto por esse descanso
mais uma segunda-feira
Acordo cansado, pesado.

olho à mesa
o pão que não posso mais ir comprar
Ligo a T.V; Pra não ver.
Pra voltar a dormir
sonhar, lembrar, iludir-me.

Tanta coisa pra falar,
tantas historias pra contar.
Mas meu parceiro é só esse sofá.

saudosa mocidade,
hoje só a vejo em alta velocidade
sem tempo e paciência pra ouvir.
Entra e sai, a garotada e eu fico aqui.

Os conselhos que guardei agora não mais posso dar,
demoro pra falar, sai embolado e a resposta... mal consigo escutar.

Saudade da própria voz,
cantando Noel, cantando "pitéu".

O baralho não consigo mais enxergar,
também não sei com quem jogaria,
meus velhos amigos?... minha Maria?...
... ...
que Deus os tenham em bom lugar.

Sem cabelo pra pentear,
nem posso entrar no mar.
Ah, meu mar!
 
Mais tarde me levarão pro velho passeio,
pra pegar sol, pro corpo não mofar,
vou sentar no banco da praça,
e fazer a função do velho na cadeia alimentar.

Alimentando aves porcas,
que devolvem o pão processado em merda em minha careca,
para gargalhada da criançada,
fiz tanto por muitos e é isso que agente herda. 
...

Fazer minha função na cadeia alimentar
uma dor de cabeça,
uma fisgada,
uma dor no peito,
receio que é a hora
...
Ainda não

Continuo aqui,
escravo desse corpo desgastado,
ultrapassado e esperançoso.
Quem sabe num futuro depois daqui...
serei recompensado pelo bem feito no passado
ou será esse corpo pesado uma maneira de pagar pecados?

5 comentários:

  1. A velhice é uma droga mesmo!
    Hoje passei o dia deitada por conta de uma dor nos quadris insuportável!
    Tudo por conta de um deslocamento de quadril que tive durante a gravidez.
    E meu filho? A essa hora está com alguém mais interessante do que eu!!!

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  2. é música?
    tem cara, jeito e som de música as palavras ;)

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  3. Muito triste mas cheio de veracidade, quanto aos pombos, tadinhos dos ratos de asas

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  4. Uma leitura crua de uma realidade,que,a quem de sensibilidade,impactua.....
    Abraço poeta.

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  5. Texto de uma sensibilidade

    tocante. Adorei.

    beijos

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